A maioria da população caxiense sabe onde está localizada a Bulls, não é mesmo? Mas alguém sabe o que acontecia neste mesmo pavilhão, há 80 anos atrás?
Este edifício faz parte do complexo de pavilhões industriais da Antiga Cooperativa São Victor, atualmente Cooperativa Nova Aliança. O conjunto foi construído em diversas fases, desde a década de 30, passando por alterações na década de 60 e 70. O desenho arquitetônico do conjunto, mantido no Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, é datado de 3 de setembro de 1935.

Fachada da cooperativa São Victor na década de 1950. Foto: acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
O início da Cooperativa remete a 1929, na localidade de São Victor da 5ª Légua, razão do nome. O idealizador dessa organização foi o empreendedor Agostino Zandomeneghi, que adquiriu a primeira sede do grupo em 1930, na Rua Sinimbú. O terreno na Rua Augusto Pestana, junto à Estação Férrea, foi adquirido em 1932, para facilitar o transporte e a distribuição dos produtos, foi quando a empresa se consolidou no mercado. Em 2000 aconteceu a mudança de endereço, pela dificuldade de carga e descarga dos produtos nessa região. Em 2012, a São Victor passou a integrar a Cooperativa Nova Aliança.
O pavilhão que abriga atualmente a Bulls, projeto datado de 1968, foi a ultima construção do complexo, e possui um único pavimento, para função de abrigar pipas de abastecimento de vinho e seus derivados. A altura deste edifício foi modificada em 1970, com projeto oficialmente aprovado, deixando o pé direito mais alto, para atender a necessidade da cantina em armazenar pipas maiores e por consequência, maiores quantidades de vinho e seus derivados. Em 1973, passou por nova ampliação. Tendo a simetria de fachada como uma grande característica, as aberturas localizadas no frontão reforçam isso, além de garantir a ventilação superior e iluminação natural. Cobertura em duas águas, com grandes tesouras de madeira e base em pedra basalto.

Foto anterior à intervenção. Fonte: Google – 2011
O projeto de intervenção assinado pelos arquitetos Vinicius Ribeiro e Cristian Moz, preservou a fachada principal da edificação, sem alteração tipológica ou morfológica, atendendo a legislação. Existia um reboco na parte interna, muito danificado, que foi retirado, deixando a alvenaria de tijolos cerâmicos artesanais aparente. A lateral não possuía reboco, mas foi realizado um trabalho de limpeza dos tijolos. O projeto de reforma também não alterou a estrutura do prédio, mantendo as aberturas originais. Internamente, permanece o corpo estrutural do prédio e toda a estrutura da cobertura aparente. Algumas paredes foram construídas, algumas demolidas, aberturas laterais fechadas, para adaptar o espaço à demanda da nova atividade. A reforma do prédio durou cerca de 1 ano.

Fachada principal preservada

Interior do pavilhão com os tijolos e estrutura do telhado aparentes
Anterior à intervenção, o pavilhão encontrava-se sem uso, deteriorado pelo tempo com vazamento no telhado e problemas estruturais. Ainda abrigava as gigantes pipas da vinícola, com aproximadamente 10m de altura. Os arquitetos tiveram a preocupação com o sítio com alto valor histórico, em manter a história da região e da estação férrea, local em atual desenvolvimento na cidade, mantendo a identidade da edificação.
Também nesse período, outros pavilhões da antiga vinícola também receberam intervenções para abrigar o espaço de eventos do Café de La Musique. Trata-se da construção principal do complexo, cuja fachada em pedra é adornada pelo portão de ferro original dos anos 1930.
Reconhecido pelo município como um bem de patrimônio cultural, está atualmente em análise para o processo de tombamento municipal.
Localizada na Rua Dr. Augusto Pestana, nº 55, Bairro São Pelegrino na cidade de Caxias do Sul.